
Pedro Henrique Schumann
Professor de Química no Ensino Básico e Neurociência no Ensino Superior. Amante da Educação e do poder de transformação que a aprendizagem pode causar na vida de cada ser humano.Publicado em . | Atualizado em 21 de janeiro de 2021.
Uma das sensações mais frequentes que diversos vestibulandos e vestibulandas experimentam é que a quantidade de assuntos a serem estudados, além da diversidade de matérias a serem encaradas, torna sufocante e desesperador o preparo para as avaliações.
Frente a essa situação, a Neurociência se apresenta como uma alternativa que pode potencializar e estimular técnicas de estudos que auxiliem nesse período tão intenso de provas. Vários estudos dessa área da ciência da cognição apontam que, para uma boa retenção de conteúdos e informações, o cérebro humano precisa ser exposto, durante intervalos de tempo espaçados e frequentes, ao assunto estudado a fim de que crie conexões e caminhos neurais fortalecidos para um rápido e satisfatório acesso ao conhecimento adquirido.
Com esse intuito, o artigo pretende apresentar algumas Neurotécnicas de estudos que podem melhorar e tranquilizar os estudantes em um período intenso de preparo!
Várias pesquisas científicas realizadas por psicólogos e neurocientistas mostram que a aquisição de novos conhecimentos pelo cérebro humano ocorre por meio da formação dos chamados Blocos de Memória, parte em que as informações guardadas podem ser trocadas, relacionadas e interpretadas. Esse tipo de processamento de informações ocorre em duas regiões do nosso Sistema Nervoso Central, denominadas Córtex Pré-Frontal (o centro de aquisição das informações recebidas pelo cérebro) e Hipocampo (a área responsável pela elaboração e formação de memórias relacionadas à aprendizagem).
Esse processo de aquisição de conhecimentos também ocorre com a participação de outra importante região do cérebro, responsável pela elaboração das emoções, denominada Sistema Límbico, que se relaciona diretamente às duas áreas citadas anteriormente, já que a formação de novas memórias depende de um conteúdo extremamente afetivo para torná-la duradoura.
A atenção é outro aspecto fundamental e que precisa ser melhor compreendido e explorado por estudantes e professores na aprendizagem, a fim de potencializar os estudos e a conversão de memórias de longo prazo. Nosso cérebro atua, em seu estado atencional, alternando os modos focado e difuso em atividades que necessitam da nossa concentração.
No modo de atenção focada, ficamos completamente absorvidos na atividade que estamos desempenhando, independentemente de ser prazerosa ou não para o nosso cérebro, ao ponto do nosso córtex filtrar todos os estímulos de distração que não estão conectados à atividade que buscamos realizar.
Já no modo difuso, o nosso cérebro se encontra em estado de relaxamento, porém apresentando intensa atividade, já que é nessa condição de atenção que o nosso Sistema Nervoso Central relaciona sinapses entre blocos de memória que não estavam interligados e que são fundamentais para consolidar a aprendizagem. A pesquisadora Bárbara Oakley argumenta que é no modo difuso que respostas que anteriormente não estávamos conseguindo encontrar surgem, uma vez que alcançamos uma visão global do problema, despertando pontos-chaves que constituem a resolução deste.
Entre as técnicas que podem auxiliar a melhora do desempenho dos estudantes, inicialmente, se faz necessário destacar aquelas que são focadas, justamente, em aspectos da formação de memórias e da atenção. Esses dois pilares serão o sustentáculo que irá garantir que o cérebro dos alunos realize as conexões necessárias para extrair o melhor das informações e dos conteúdos a serem trabalhados e transformados efetivamente em conhecimento. Sendo assim, vamos explorar quatro neurotécnicas de estudos, são estas:
1) a técnica Pomodoro;
2) a técnica Intercalada;
3) as Revisões Seriadas;
4) o Princípio de Pareto.
1. Técnica do Pomodoro
A técnica Pomodoro se baseia na alternância entre o modo de atenção focada e o modo de atenção difusa. Esse tipo de troca entre os estados de atenção é completamente compreensível quando percebemos que os estímulos hormonais liberados em situações de alerta, como ocorre quando detectamos alguma situação ameaçadora, são os mesmos gerados em condições de extrema ansiedade, nos momentos em que nos preparamos para estudarmos algum conteúdo que temos maior dificuldade ou quando vamos realizar uma prova muito importante. Dessa maneira, ao alternar as atenções entre os modos focado e difuso, geramos pequenas recompensas para o cérebro ao permiti-lo divagar após exercer um intenso período de atividade.
Cada ciclo de Pomodoro corresponde a um tempo total de 30 minutos divididos em 2 partes: nos primeiros 25 minutos, a atividade de estudo deve ser intensa e completamente focada na tarefa que se está exercendo, deixando de lado qualquer distração que roube nosso foco. Nos 5 minutos seguintes, deve ser realizada outra atividade qualquer que se deseje. Com a seguinte condição: deve ser algo que deixe a mente completamente relaxada e à vontade, visto que é nesse período que o cérebro realiza uma reciclagem de informações, compostos químicos, neurotransmissores e hormônios que o inundaram durante o período de intenso foco e que não deixaram as conexões sinápticas serem realizadas de forma a associar as informações adquiridas que levam à formação dos blocos de memória fundamentais para a aprendizagem.
Contudo, muitos estudantes receiam perder tempo ou desperdiçar a atenção que haviam conseguido estabelecer no período de 25 minutos, uma vez que não se encontram mentalmente cansados com a atividade que estavam realizando. Entretanto, é importante destacar que a técnica não se baseia apenas em relaxar a mente quando esta já se encontra esgotada, e sim em estabelecer uma disciplina entre os tipos de atenção, dado que a alternância entre foco e dispersão é fundamental para que ocorra a consolidação do que foi compreendido durante o estudo, como comentado anteriormente.
Além disso, é possível flexibilizar o tempo de ciclos do Pomodoro. A medida que o ritmo de estudo vai melhorando e se intensificando com a realização dessa técnica, se torna mais produtivo estender não só o tempo de atenção focada, mas também o período relacionado ao descanso mental, como, por exemplo, num ciclo de 60 minutos, divido em 50 minutos de atenção total e 10 minutos de atenção desfocada. No entanto, é essencial que o aluno ou aluna não aumentem o tempo se não se sentirem seguros ou cansarem-se com muita intensidade. Lembrem-se: a técnica não é sobre quantidade, mas sim sobre alternância de atenção.
2. Técnica Intercalada
A técnica Intercalada é bastante confundida, muitas vezes por estudantes e até professores, com a montagem de uma grade de estudos em que há alternância entre matérias de Ciências Exatas e de Ciências Humanas, seguindo o cronograma do próprio colégio ou curso. Na verdade, muitos estudos científicos demonstram que a intercalação dos assuntos estudados não precisa seguir um padrão específico entre os conteúdos, mas que é necessário ocorrer um constante rodízio entre os assuntos, a fim de que o cérebro se mantenha entusiasmado e dinâmico em relação à atividade de estudo que está realizando.
Na verdade, existem até pesquisas mostrando que disciplinas envolvendo raciocínio lógico, como matemática, química ou biologia, podem ter melhor aproveitamento quando desenvolvidas por meio dessa técnica, porém isso não é um consenso na educação, mostrando que qualquer assunto pode ser abordado nesse rodízio de disciplinas.
A técnica Intercalada, inclusive, pode ser aliada à técnica do Pomodoro. Sendo assim, cada ciclo de estudo pode ser associado à determinada matéria, seguindo o período destinado ao estudo focado e à atenção dispersa, como já mencionado anteriormente. Esse tipo de união entre as técnicas pode ajudar na formação de memórias de longo prazo mais sólidas para a consolidação da aprendizagem.
A aplicação da técnica Intercalada unida à do Pomodoro baseia-se na realização de uma sessão de estudos em que serão feitos nove ciclos de atividades alternando entre três matérias a serem exploradas. Se formos estudar Química (A), Matemática (B) e Biologia (C), as incursões nessas disciplinas devem seguir a seguinte estrutura: ABCABCABC ou AABBCCABC, em que cada matéria (A, B ou C) deve corresponder a um Pomodoro. Essa organização torna mais ativa a atuação do cérebro na aquisição e formação dos conteúdos de memória.
3. Revisões Seriadas
A terceira técnica que iremos abordar, as Revisões Seriadas, é crucial do ponto de vista da formação e consolidação das memórias duradouras para a aprendizagem. Vários psicólogos experimentais, como o alemão Hermann Ebbinghaus, concluíram que existe uma curva de aprendizado com comportamento contrário à curva de esquecimento. Os estudos mostraram que, em média, nas primeiras nove horas após a exposição do cérebro do indivíduo às informações, há uma intensa queda na retenção do conteúdo ao qual se teve contato. No entanto, esses mesmos experimentos mostraram que, quando ocorrem exposições contínuas e espaçadas às informações compreendidas, a curva de crescimento da aprendizagem tem um comportamento exatamente espelhado ao da curva de esquecimento: ocorre um aumento exponencial da retenção das informações à medida que os assuntos são revisados periodicamente.
O ideal é que, após termos o primeiro contato com o assunto estudado, façamos uma revisão nove horas depois do conteúdo ter sido dado. Posteriormente, 24h após o primeiro contato. Três dias, uma semana, um mês e assim por diante. Claro que é necessário planejar um esquema de cronograma que contemple o encaixe para todos os conteúdos que devem ser estudados levando em consideração essa técnica. Contudo, corretamente estruturada essa dinâmica, os resultados provenientes dessas revisões irão aumentar a curva de aprendizagem.
Do ponto de vista da Neurociência, essa metodologia se justifica pelo fato de que as conexões sinápticas de curto prazo realizadas entre os neurônios são reforçadas quando revemos aquele assunto diversas vezes, mas dando um certo tempo de intervalo entre as revisões para que o cérebro processe as informações e gere blocos de memória que irão se consolidar em longo prazo, como foi demonstrado pelo grande neurofisiologista Donald Hebb.
Além disso, vale a pena comentar que essa técnica, ao reforçar a formação de diferentes blocos de memória, permite que a aprendizagem de assuntos de diferentes áreas, não só os acadêmicos, contribua enormemente para as conexões entre os neurônios de diferentes regiões do cérebro, como foi demonstrado pelo neurocientista e vencedor do prêmio Nobel Erick Kandel, já que as experiências repetidas algumas vezes podem levar a alterações genéticas nas próprias células nervosas, tornando as memórias adquiridas ao longo do tempo mais estáveis.
Apesar da técnica se basear na retomada de determinado conteúdo em tempos regulares, é importante destacar que essa revisão terá maior eficiência se for realizada de forma ativa, por meio de outras técnicas. Podemos, por exemplo, no primeiro contato com o assunto, realizar um resumo teórico; em um segundo momento, construir um mapa mental; posteriormente, poderia ser realizada a criação de flash cards como forma de abordar os principais pontos estudados.
Também é importante separar um dia da semana para as revisões dos assuntos, dedicando esse período somente para a realização dessas retomadas de conteúdos. Isso se torna fundamental na preparação para qualquer concurso, já que auxilia na gestão da grande quantidade de matérias necessárias para a realização de uma boa prova.
4. Princípio de Pareto
A quarta e última técnica fundamental que ajuda a potencializar a aprendizagem é chamada de princípio de Pareto, também conhecido como 80/20. Esse princípio técnico é muito importante para o estudante, pois tem o objetivo de realizar um levantamento dos principais conteúdos que se pretende dominar nas provas, uma vez que se entende que 80% das melhorias implementadas em um bom estudo geram 20% dos pontos de fortalecimento primordiais para o sucesso nos concursos.
Como primeiro passo para a correta implementação desse princípio, é importante que seja realizado um levantamento dos assuntos que mais são recorrentes nas avaliações a serem prestadas pelos candidatos e candidatas, observando, com bastante atenção, os editais dos concursos. Em seguida, deve ser montada uma tabela dividida em duas colunas, nas quais os estudantes irão elencar os conteúdos que consideram seus pontos fortes, do lado direito, e seus pontos fracos, do lado esquerdo. É interessante que seja construída uma tabela de assuntos para cada matéria que será estudada.
Cabe dizer que pontos fracos são temas que deixam os estudantes mais inseguros ao se depararem com uma questão. Dessa forma, ao serem identificados os pontos fortes e fracos, deverão ser buscados exercícios daqueles conteúdos que devem ser trabalhados de forma intensa para que mais tópicos que estavam nos pontos fracos migrem para os pontos fortes e, assim, façamos essa gangorra da aprendizagem e do preparo inclinar mais para o lado dos assuntos que se têm mais confiança, nos tornando mais preparados, tranquilos e confiantes para atingir o sucesso tão desejado nos exames que serão realizados.
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